quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Aninha e a morada de Deus

Descrição para cegos: mãos
de criança unidas em posição
orante segurando um crucifixo.

            Eu percebi há algum tempo que minha mulher andava triste pela casa. Lamentava sozinha nos cantos, dormia mais cedo que o habitual. Até os sorrisos dela eram tristes. Imaginei se tinha sido algo que fiz, mas não lembro de ter feito nada errado.
         Certo dia decidi perguntar o motivo de toda aquela tristeza. Mesmo porque ela sempre foi forte e fervorosa. Nunca deixava nada lhe abalar, porque tinha Deus do seu lado. Toda vez que se entristecia com algo, buscava em silêncio o conforto divino. Mas desta vez era diferente, porque nem isso estava ajudando. “É a Aninha, amor”, disse ela, “nos últimos dias ela tem visitado cultos afro. Nossa família sempre foi fortemente católica, não entendo o porquê de ela fazer isso agora.”
         Ouvindo isso, até me assustei. Realmente, nossa família sempre foi adepta do catolicismo. E agora Aninha me vem com essa? Perguntei se ela sentia vontade de abandonar nossas tradições religiosas e assumir sua nova religião. Fiquei aliviado quando ela disse que fora convidada por um amigo e ficou curiosa, porque só conhecia uma religião. Assistiu a alguns cultos e se encantou com o uso do corpo, na dança, de se comunicar com os deuses.
         Aninha aprendeu que seu corpo é também uma morada de Deus, e com isso Ele estaria sempre com a garota e que nem sempre é preciso ir até a igreja para se encontrar com Deus. Às vezes só basta deixar um espaço reservado para Ele no coração. (Kilder Cavalcante)

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