Descrição para cegos: mãos de criança unidas em posição orante segurando um crucifixo. |
Eu
percebi há algum tempo que minha mulher andava triste pela casa. Lamentava
sozinha nos cantos, dormia mais cedo que o habitual. Até os sorrisos dela eram
tristes. Imaginei se tinha sido algo que fiz, mas não lembro de ter feito nada
errado.
Certo dia decidi perguntar o motivo de toda aquela tristeza.
Mesmo porque ela sempre foi forte e fervorosa. Nunca deixava nada lhe abalar,
porque tinha Deus do seu lado. Toda vez que se entristecia com algo, buscava em
silêncio o conforto divino. Mas desta vez era diferente, porque nem isso estava
ajudando. “É a Aninha, amor”, disse ela, “nos últimos dias ela tem visitado
cultos afro. Nossa família sempre foi fortemente católica, não entendo o porquê
de ela fazer isso agora.”
Ouvindo isso, até me assustei. Realmente, nossa família
sempre foi adepta do catolicismo. E agora Aninha me vem com essa? Perguntei se
ela sentia vontade de abandonar nossas tradições religiosas e assumir sua nova
religião. Fiquei aliviado quando ela disse que fora convidada por um amigo e
ficou curiosa, porque só conhecia uma religião. Assistiu a alguns cultos e se
encantou com o uso do corpo, na dança, de se comunicar com os deuses.
Aninha aprendeu que seu corpo é também uma morada de Deus, e
com isso Ele estaria sempre com a garota e que nem sempre é preciso ir até a
igreja para se encontrar com Deus. Às vezes só basta deixar um espaço reservado
para Ele no coração. (Kilder Cavalcante)
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