Descrição
para cegos: cena do documentário “Crianças de terreiros, redes educativas e
diferenças”, em que aparece o perfil do rosto de uma menina negra, usando faixa
no cabelo e traje branco, semelhante à indumentária usada em terreiros. O
movimento dos lábios da criança dá a entender que ela falava ou cantava quando
foi fotografada. Ao fundo, pintura da bandeira do Brasil em muro. Créditos:
Documentário “Crianças de terreiros, redes educativas e diferenças”
Por Mileide Moreira da Silva
O Brasil
é um país rico em diversidades e no contexto religioso não poderia ser
diferente. Nesse sentido, ainda predominam as religiões cristãs, a exemplo da
católica e evangélica. Essas são bem-aceitas pela maioria popular. Mas, como
fica a reação de um país que afirma ser laico, de acordo com a sua
Constituição, no que diz respeito às minorias religiosas, a exemplo daqueles
que, desde a sua origem, são praticantes das religiões de matriz africana? De
que forma vem se comportando a sociedade no que se refere à prática da
laicidade? Os praticantes das religiões de matriz africana estão sendo aceitos
fora dos seus grupos de convívio comum?
Em 1992, a jornalista carioca Stela
Guedes, foi designada para fazer uma reportagem de final de semana para o
jornal O Dia, em terreiros da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, com o
objetivo de ver como andavam tais locais de culto, naquele momento. Stela
Guedes ficou muito impactada ao deparar-se com a cena de uma criança de 4 anos
comandando num atabaque, o culto aos Orixás, e, o depoimento de outras, as
quais, traziam de forma marcante, a presença da discriminação em outros
ambientes, como a própria escola. A matéria recebeu o título “Os Netos de
Santo”, e teve grande repercussão para as comunidades de terreiro.
Anos
depois, já enquanto professora de pós-graduação na Universidade Estadual do Rio
de Janeiro, foi impulsionada a aprofundar pesquisas na área da educação, que
resultaram na produção do livro “Educação nos Terreiros – e como a escola se se
relaciona com crianças de candomblé”, lançado em 2012. Por fim, em 2017 foi
produzido um documentário com o tema.
Conforme
pesquisas realizadas no site do Respeitar
é preciso, ao longo de 20 anos de pesquisa, a professora buscou analisar o
preconceito contra religiões de matriz africana no ambiente escolar e as
dificuldades da implementação da Lei 10.639, de 2003, que prevê o ensino de
cultura e história afro-brasileira e africana nas escolas. A pesquisadora
descobriu que para os estudantes de religiões afros, a escola é o espaço
em que mais sofrem discriminação,
intimidação e vergonha.
O documentário trata de entrevista dada em 2012,
na qual relata de que forma se deu o seu processo de pesquisa, e algumas
histórias de vida marcantes e que serviram de inspiração para a composição de
seu livro. A produção provoca reflexões, trazendo uma base de grande
importância, que, é o contexto educacional brasileiro, onde, a discriminação
ainda acontece.
É de grande relevância trazer para as
comunidades escolares estudos no que diz respeito a tais questões, visando
conscientizar para que o respeito à diversidade religiosa venha a ser o exercido,
sendo este um direito humano.