terça-feira, 23 de maio de 2017

Cristo salva, mas não encaminha.

Descrição para cegos: pegadas na areia de uma praia são interrompidas pelas ondas e por resquícios de uma falésia.

       Por Marcelo Piancó


         Deus está em todo lugar. Quem crê, acredita também nessa sentença. Tem crente que acha que sim, tem gente que pensa que não, mas como se tem pregado, no sagrado templo do senso comum, não se deve discutir religião. Então vamos só analisar quem compartilha o nome do Senhor em vão. Aqui é preciso também dividir a humanidade em duas eras, A.C. e D.C., antes e depois do chat.
        Lá atrás, na era pré-orkutiana, quando ainda não havia fadas, borboletas e efeito glíter, as mensagens religiosas nos eram enviadas em papel e pelo correio - lembram-se deles?! Pois bem, além do meio e da forma, uma das características mais louváveis dessa prática, era a periodicidade sazonal da divulgação da palavra, só para usar uma expressão neopentecostal. Também havia os lugares propícios para a distribuição presencial, como arredores de templos, escolas cristãs e o ecumênico transporte coletivo. Mas mesmo assim a gente se sentia abordado, como um navio tripulado por uma alma mercante pronta para se subjulgar à mensagem divina.


        Se naquele tempo já era assim, o que dizer de hoje, essa era que quem nos navega é o mar? Estamos conectados, interligados, agrupados e ocupados em ocupar os outros. É, parece que as definições de catequese foram atualizadas e nossas redes sociais viraram o altar preferido para oferecer a nossa paciência em sacrifício. Nossos grupos de whatsapp recebem tanta espiritualidade que chego a pensar que Chico Xavier era apenas o primeiro ser wireless na época da internet discada.

Você, com certeza, já interrompeu uma conversa, uma tarefa e até um devaneio para atender uma importante mensagem de Deus, dizendo que te ama. Chego até a me preocupar com esse amor, pois se Ele precisa estar me lembrando tantas vezes e o tempo todo, acho que tem um cheirinho de nono mandamento no meu wifi.
Pelo amor de Deus, será que será preciso Ele enviar sete pragas digitais para  que os viralizadores da sua mensagem se toquem que estão tomando seu santo nome em vão? Me perdoem a blasfêmia, mas esse soberano das redes pra mim é spam, eu deleto e desconjuro, e digo mais, não creiam que no juízo final terá um anjo digital influencer para computar as suas indulgências compartilhadas em rede. É mais fácil ter um Buda invocado ou um bode gaiato transcendental perguntando quem foi que lhe autorizou a teclar em nome do senhor.
        Sei que tudo isso é apenas um desabafo de um agnóstico virtual, mas vou continuar nadando contra as correntes, principalmente as religiosas, tão inócuas e contagiosas, mas, além do meu desabafo, deixo aqui minha mensagem final: Bom dia, Jesus te ama! Deus no controle, só cristo salva e eu vou continuar querendo ser pecador no dia que você rezar e me enviar.  

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