sexta-feira, 6 de maio de 2016

Marcas da Fé


         Por Elisa Damante

        Recentemente, um Procurador da República chamado Douglas Kirchner foi acusado de torturar física e psicologicamente sua própria esposa. O caso tomou proporções nacionais por ser ele um dos integrantes do Ministério Público que investiga o ex-presidente Lula nas acusações de suposto tráfico de influência relacionados ao BNDES.
        O fato é que o fanatismo religioso travestido de agressão parece ter vencido. Ignorando parcialmente as agressões sofridas pela esposa do procurador, o conselheiro do Ministério Público Federal Carlos Frederico considerou não haver motivos suficientes para a exoneração de Kirchner. Para ele, o procurador sofre de transtornos mentais.


        A "fragilidade" do procurador se uniu a uma outra questão. O argumento é simples e, aparentemente, suficiente para explicar os delitos: a fé. A advogada do procurador foi além. Janaína Paschoal defende que o acusado estaria exercendo o direito de liberdade religiosa. “Ele está sendo punido por ter acreditado. O que está acontecendo aqui é um julgamento da fé”.
        Assim como Kirchner é acometido por "transtornos mentais", como alega o conselheiro, o Ministério Público parece desenvolver sintomas parecidos. Ora, criado com o único intuito de fiscalização e aplicação de leis, na tentativa de zelar pelos direitos dos cidadãos, por que, mediante as manchas roxas causadas por chibatadas nas costas de uma mulher, o MP cruza os braços?
            As crenças do procurador não anulam a Constituição. A Lei Maria da Penha não contempla exceções religiosas. A fé de Douglas Kirchner não deve machucar física e psicologicamente outra pessoa. Do alto de seu cargo, Kirchner sai incólume aos danos que causou. Enquanto isso, a vítima é condenada à impunidade das agressões que sofreu. As chibatadas, segundo os argumentos do agressor, foram dadas mediante a interpretação e embasadas nas escrituras sagradas.
        Mas, e perante a justiça do grande Criador, será que Kirchner será sentenciado?


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