por Elisa Damante
A força de uma bancada evangélica nas decisões da Câmara dos Deputados nos faz repensar. De acordo com o último senso do IBGE, o número de evangélicos no país cresceu 61%, de 2000 a 2010. Esses números refletiram também na Frente Parlamentar Evangélica (FPE). Hoje, ela agrega cerca de 90 parlamentares e, segundo dados da própria Frente, o crescimento foi de 30% na última legislatura.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda esbarra nos conceitos e ações de laicidade. Entidades religiosas têm força e liberdade para exercer pressão sob o Congresso, visando dificultar a promulgação de leis que ferem os interesses e dogmas das igrejas. Além disso, não raro, encontramos símbolos de religiões, em sua maioria, cristãos, espalhados por prédios de repartições públicas.
A Constituição, através do inciso VI do artigo 5º, nos garante que ninguém será privado de direitos por sua religiosidade. Para aqueles que querem o Estado tutelado pela religião, o direito de amar e constituir família precisa passar pelo crivo de uma bancada que se baseia em escrituras bíblicas para conduzir um estilo de vida.
Há meses, a discussão de uma proposta de um estatuto na Câmara causou revolta. O Estatuto da Família que pretende reconhecer como núcleo familiar apenas a união entre homem e mulher, pode tornar milhares de brasileiros órfãos. O deputado Anderson Ferreira (PR-PE), integrante da bancada evangélica e autor do texto, deixa de fora arranjos familiares diferentes hoje amplamente aceitos pela sociedade e mesmo aqueles decorrentes de desintegração de grupos parentais. Ou seja, além de excluir os casais homoafetivos, a proposta de modificação do Estatuto da Família deixa de fora núcleos formados apenas por avós e netos, por exemplo.
A laicidade duvidosa do país e a exclusão clara dos que optaram por não acreditar em divindades ou seguirem religiões foram os motivos pelos quais a força de Satanás foi acionada. Quem sabe ele não é capaz de resolver o problema?
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