Por Elisa Damante
O lugar era frio, mas repleto de
pessoas fervorosas. As músicas faziam todos dançarem: era quase impossível
ficar parada diante de tanta empolgação. Eu estava na igreja, e todos
aguardavam a chegada do pastor. Minutos de adoração e louvor ao Senhor se
passaram, e aquele que seria responsável por disseminar os ensinamentos
bíblicos começou a pregar. O evangelho do dia estava baseado nas cartas do
apóstolo Paulo, um fariseu que, antes de sua conversão, perseguia com veemência
os cristãos.
A pregação seguia uma linha
interessante. Até o momento em que ouvi as palavras “intelectualmente
improdutivos”. Foi desta forma que o representante da cerimônia se referiu àqueles
que não acreditavam em Deus. O culto era longo, e a partir daquele momento, o
discurso de amor duvidoso parecia não findar. “Sem Deus é impossível ser
feliz”.
Minha cabeça fervilhava de dúvidas e
meu coração ardia em indignação. Cresci em uma família religiosa, que me dizia
que Deus era um ser de misericórdia, que sentia amor igual por todos os seus
filhos, e era exatamente ali, na casa d’Ele, que um humano igual a mim,
desconstruía minhas bases.
Lembrava-me, nesse momento, dos
ensinamentos de Buda. Lembrava-me do caminho do meio que ele próprio propunha.
Lembrava da busca infindável pela origem do sofrimento e as formas de encontrar,
em vida, um jeito de saná-lo. Buda não descartava a existência de um Deus, mas
acreditava que ater-se somente a isso era uma forma de distração. O caminho
para a felicidade deve ser buscado na Terra, enquanto vida, e Deus não
necessariamente precisa estar incluso nele.
Buda, o iluminado, ao longo de sua
vida, tentou disseminar seus conhecimentos e reflexões na tentativa de fazer
com que lembrássemos de que somos humanos, e somos iguais. Que a vida nunca nos
dará prazeres completos, e que nossas frustrações diárias são reflexo dessas
ilusões. Para Buda, a felicidade está dentro de nós.
A misericórdia do homem se perdeu no
caminho da história e o egoísmo de considerar apenas um caminho de sucesso em
vida exclui os que escolheram uma estrada vicinal. O que muitos ignoram, é que
o solo dos que creem é feito de fé, um terreno instável e arenoso que nem todos
são obrigados a pisar. A felicidade é intrínseca a nós, infeliz é achar que ela
é privilégio apenas dos que creem.
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