sexta-feira, 18 de março de 2016

Felicidade é só questão de crer?

Por Elisa Damante

O lugar era frio, mas repleto de pessoas fervorosas. As músicas faziam todos dançarem: era quase impossível ficar parada diante de tanta empolgação. Eu estava na igreja, e todos aguardavam a chegada do pastor. Minutos de adoração e louvor ao Senhor se passaram, e aquele que seria responsável por disseminar os ensinamentos bíblicos começou a pregar. O evangelho do dia estava baseado nas cartas do apóstolo Paulo, um fariseu que, antes de sua conversão, perseguia com veemência os cristãos.


A pregação seguia uma linha interessante. Até o momento em que ouvi as palavras “intelectualmente improdutivos”. Foi desta forma que o representante da cerimônia se referiu àqueles que não acreditavam em Deus. O culto era longo, e a partir daquele momento, o discurso de amor duvidoso parecia não findar. “Sem Deus é impossível ser feliz”.
Minha cabeça fervilhava de dúvidas e meu coração ardia em indignação. Cresci em uma família religiosa, que me dizia que Deus era um ser de misericórdia, que sentia amor igual por todos os seus filhos, e era exatamente ali, na casa d’Ele, que um humano igual a mim, desconstruía minhas bases.
Lembrava-me, nesse momento, dos ensinamentos de Buda. Lembrava-me do caminho do meio que ele próprio propunha. Lembrava da busca infindável pela origem do sofrimento e as formas de encontrar, em vida, um jeito de saná-lo. Buda não descartava a existência de um Deus, mas acreditava que ater-se somente a isso era uma forma de distração. O caminho para a felicidade deve ser buscado na Terra, enquanto vida, e Deus não necessariamente precisa estar incluso nele.
Buda, o iluminado, ao longo de sua vida, tentou disseminar seus conhecimentos e reflexões na tentativa de fazer com que lembrássemos de que somos humanos, e somos iguais. Que a vida nunca nos dará prazeres completos, e que nossas frustrações diárias são reflexo dessas ilusões. Para Buda, a felicidade está dentro de nós.

A misericórdia do homem se perdeu no caminho da história e o egoísmo de considerar apenas um caminho de sucesso em vida exclui os que escolheram uma estrada vicinal. O que muitos ignoram, é que o solo dos que creem é feito de fé, um terreno instável e arenoso que nem todos são obrigados a pisar. A felicidade é intrínseca a nós, infeliz é achar que ela é privilégio apenas dos que creem.

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