Por Ivone Beatriz
Antes
de começar a explanar minha opinião, gostaria de deixar claro que sou católica
praticante. Frequento assiduamente a missa e participo ativamente de muitos
movimentos da minha igreja. Não me envergonho do que sou, e falo abertamente do
meu respeito e amor pela religião que escolhi. Não sou considerada uma pessoa
que discorda das coisas impostas pela religião e por tal motivo sou taxada de
radical e conservadora.
Porém,
me deparei com uma situação que me fez repensar. No
último domingo (20) a estátua de Iemanjá, localizada na praia de Cabo Branco,
foi alvo de vândalos pelo menos pela segunda vez nos últimos três anos. Desta
vez, a cabeça foi decapitada, bem como os dedos da imagem. O caso repercutiu
nas redes sociais, no entanto, com mais efervescência entre adeptos das religiões
de matriz africana.
As principais reclamações julgavam que
o caso era uma atitude de intolerância religiosa, mas apesar de nada ter sido comprovado,
não se tem dúvidas. O coração dos que creem e dos que sofrem não tem espaço para
dúvida. A humilhação não dispõe desse espaço. Só tem local para o medo. Medo
por não poder ter lugar dentro de uma sociedade egoísta e que exclui os
diferentes. Medo por sofrer diariamente com a intolerância. Medo por não poder
amar, não poder sentir, existir, viver, ser... Ser, viver. O que somos sem
isso? Por que permitem que arranquem isso de nós?
Mesmo não tendo ligação nenhuma com
Iemanjá, ela me representou naquele momento. Ela representou muitos que
diariamente também tem suas cabeças decapitadas. Pessoas que são atormentadas por
intolerantes que têm medo que o amor seja contagiante, que o amor seja maior. Pessoas
que têm o seu EU arrancado sem sequer ter chance de mostrá-lo. Gente que ama e
faz do seu amor sua religião. Eu me senti desrespeitada também. Vi-me frente a
frente com a intolerância que eu também já sofri.
Compartilhei da dor de ver minha fé
aos pedaços. Me vi despida de tudo que me faz ser quem sou. Me senti Candomblé,
quando lembrei de dezenas de vezes que pastores destruíram os meus santos. Me
senti Umbanda, revivendo o desrespeito que o meu Deus sofreu ao ser utilizado
para masturbação na Marcha das Vadias. Hoje somos todos um. Todos buscamos que
o amor seja a maior religião.
A não aceitação do outro é uma prática
incorporada na sociedade com base na diferença de crença e raça. Alguns
indivíduos acreditam que a sua religião é dominante e que o Outro, por estar
numa condição contrária, não deve se manifestar. Arrancar esse direito é
permitir que você também não possa tê-lo. A igualdade na diferença é pouco
tolerada e praticada.
Todas as pessoas, ainda que minorias, têm
o direito de ser. Sem medo de sofrer represálias e humilhações. Para
autoridades, não passou de vandalismo. Para os adeptos da religião, foi um ato
de desrespeito. E para nós? Será que algo aconteceu?
Excelente texto! Vou levá-lo para a sala de aula, no módulo 'Mundo Plural" do meu planejamento. Parabéns"
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