segunda-feira, 16 de junho de 2014

O Pagador de Promessas: representação do sincretismo religioso na cultura baiana

Resenha

Foto: Reprodução/ Youtube

Lançado em 1962 com direção de Anselmo Duarte, O Pagador de Promessas foi vencedor do Festival de Cannes na categoria Melhor Filme. O longa-metragem foi baseado na peça teatral homônima de Dias Gomes, encenada pela primeira vez em 1960, em São Paulo.
O protagonista é Zé do Burro, um agricultor que sai do interior da Bahia rumo a Salvador carregando uma cruz nas costas para pagar uma promessa. O seu melhor amigo, o burro Nicolau, fora atingido por um raio e encontrava-se muito doente. Depois de ser desenganado sobre a recuperação de Nicolau por um veterinário, Zé resolve fazer uma promessa para Iansã, em um terreiro de candomblé, e promete dividir suas terras com os lavradores mais pobres e carregar uma cruz “tão pesada quanto a de Cristo” até o altar da igreja de Santa Bárbara.
No entanto, ao contar sua história ao padre Olavo, vigário da igreja, o protagonista começa a encontrar os obstáculos que vão acompanhá-lo por todo o correr da história. O vigário, ao saber que a promessa fora feita em um terreiro de candomblé, recusa-se categoricamente a autorizar a entrada de Zé na igreja com a cruz, acusando-o de bruxaria.
O enredo da história é todo marcado pelo sincretismo religioso inerente à cultura baiana. Para driblar seus senhores, que os obrigavam a cultuar entidades católicas, os escravos fingiam cultuar os santos cristãos, mas, na verdade, mesclavam sua religião àquela que lhes era imposta. Assim, Iansã, oxirá a quem Zé do Burro fez a promessa, corresponde a Santa Bárbara.
         O filme consegue mostrar muito bem essa mescla de religiões. A cena das baianas lavando as escadarias da igreja de Santa Bárbara com vasos de água perfumada ilustra isso. A presença constante dos capoeiras nas escadarias também pontua essa forte influência afro na cultura da Bahia.
         O ponto de vista de Zé, irredutível no que diz respeito a cumprir a promessa de levar a cruz ao altar, também mostra a mentalidade do povo simples, para o qual não faz diferença se é Santa Bárbara ou Iansã, igreja ou terreiro de candomblé. O sincretismo já está tão enraizado na cultura que é incompreensível ao protagonista que o simples fato de ter feito a promessa em um terreiro vai impedi-lo de cumpri-la. O filme também retrata a intolerância religiosa por meio da figura do padre, que discrimina categoricamente a promessa de Zé e a rotula como bruxaria.

                                                                          Por Érica Rodrigues

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