Resenha
Foto: Reprodução/ Youtube |
Lançado em 1962 com direção de Anselmo Duarte, O Pagador de Promessas foi vencedor do
Festival de Cannes na categoria Melhor Filme. O longa-metragem foi baseado na
peça teatral homônima de Dias Gomes, encenada pela primeira vez em 1960, em São
Paulo.
O protagonista é Zé do Burro, um agricultor que sai do
interior da Bahia rumo a Salvador carregando uma cruz nas costas para pagar uma
promessa. O seu melhor amigo, o burro Nicolau, fora atingido por um raio e
encontrava-se muito doente. Depois de ser desenganado sobre a recuperação de
Nicolau por um veterinário, Zé resolve fazer uma promessa para Iansã, em um
terreiro de candomblé, e promete dividir suas terras com os lavradores mais
pobres e carregar uma cruz “tão pesada quanto a de Cristo” até o altar da
igreja de Santa Bárbara.
No entanto, ao contar sua história ao padre Olavo, vigário
da igreja, o protagonista começa a encontrar os obstáculos que vão acompanhá-lo
por todo o correr da história. O vigário, ao saber que a promessa fora feita em
um terreiro de candomblé, recusa-se categoricamente a autorizar a entrada de Zé
na igreja com a cruz, acusando-o de bruxaria.
O enredo da história é todo marcado pelo sincretismo
religioso inerente à cultura baiana. Para driblar seus senhores, que os
obrigavam a cultuar entidades católicas, os escravos fingiam cultuar os santos
cristãos, mas, na verdade, mesclavam sua religião àquela que lhes era imposta.
Assim, Iansã, oxirá a quem Zé do Burro fez a promessa, corresponde a Santa
Bárbara.
O filme consegue mostrar muito bem essa
mescla de religiões. A cena das baianas lavando as escadarias da igreja de
Santa Bárbara com vasos de água perfumada ilustra isso. A presença constante
dos capoeiras nas escadarias também pontua essa forte influência afro na
cultura da Bahia.
O ponto de vista de Zé, irredutível no
que diz respeito a cumprir a promessa de levar a cruz ao altar, também mostra a
mentalidade do povo simples, para o qual não faz diferença se é Santa Bárbara
ou Iansã, igreja ou terreiro de candomblé. O sincretismo já está tão enraizado
na cultura que é incompreensível ao protagonista que o simples fato de ter
feito a promessa em um terreiro vai impedi-lo de cumpri-la. O filme também
retrata a intolerância religiosa por meio da figura do padre, que discrimina
categoricamente a promessa de Zé e a rotula como bruxaria.
Por Érica Rodrigues
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