sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Cultura e fé na secular "cidade das Neves"

Descrição para cegos: imagem aérea do Centro Histórico de João Pessoa, 
com Igreja de Nossa Senhora das Neves em evidência com relação às 
construções próximas e rio Sanhauá ao fundo, percorrendo seu curso 
e margeado de vegetação verdejante.

Por Douglas de Oliveira


Somos seres humanos, talvez criações divinas ou animais pensantes, mas, sobretudo, quando condicionados, somos seres sociais, um conjunto de rodas de engrenagem que só funciona em interdependência. Em convivência diária com nossos semelhantes, encontramos modos de sobrevivência característicos, construímos nós mesmos e buscamos um sentido para a existência. Eis aí a cultura! A partir dela, propaga-se a fé e suas diferentes orientações. 
Nossa Senhora das Neves constitui-se como símbolo da fé católica que imperou no Brasil Colonial. Com ela, nasceu nossa cidade. E hoje, 431 anos depois, passeia junto com os pessoenses em meio a rituais de devoção a ela dedicados principalmente neste dia.
        A colonização do Brasil impôs sobre a cultura nativa indígena novas concepções para a origem do Universo e a salvação de cada um. Os cultos direcionados à Lua e ao Sol, tomados pela religião marginalizada como deuses, foram substituídos pela adoração a Jesus Cristo, dominante na Europa, na época. O Cristianismo, então, espalhou-se nas dimensões do espaço-tempo. Em 5 de Agosto de 1585, dia reservado pelo Vaticano à atual padroeira de João Pessoa, às margens do Rio Sanhauá, sob o nome de Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, nasceu nossa capital. Desde então, de geração em geração, os hábitos da fé católica se repetem e tornam-se, mais do que a superficialidade científica do termo “cultura”, um sentido espiritual para a vida.
Nosso calendário, ainda hoje, representa a hegemonia da religião cristã: contamos os anos conforme o registro da passagem humana de Cristo pela Terra. Feriados, nomes de cidades e de estados brasileiros são produtos de convenções sociais históricas baseadas na ligação intrínseca entre Império e Igreja. Tais marcas representam a magnitude do poder de influência do Catolicismo Apostólico Romano no Brasil Colonial e Imperial, mas também refletem crenças e manifestações religiosas que caracterizam a história e a evolução cultural do nosso povo.
Na Festa das Neves, os ritos religiosos reavivam a tradição secular e a fé em Cristo, e os ritos ditos profanos celebram a miscigenação cultural contemporânea de uma população que dissemina novos olhares sobre o mundo.
Mitologia Grega, Hinduísmo, Islamismo, Budismo, Candomblé, Umbanda, Cristianismo... Cada manifestação de fé tem suas razões para existir. A interdependência entre os seres humanos é uma das maiores delas. A força de perpetuar crenças reside na construção cultural, na convivência entre sujeitos sociais.
“Para que, na capital da Paraíba que celebra seus 431 anos, nenhuma religião seja subjugada ou marginalizada pelo simples fato de alimentar crenças diferentes das nossas. Nossa Senhora das Neves, rogai por nós!”. Esta súplica de humildade e reconhecimento multicultural é o nosso desejo. 

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