Por Douglas de Oliveira
Somos seres humanos, talvez
criações divinas ou animais pensantes, mas, sobretudo, quando condicionados,
somos seres sociais, um conjunto de rodas de engrenagem que só funciona em
interdependência. Em convivência diária com nossos semelhantes, encontramos
modos de sobrevivência característicos, construímos nós mesmos e buscamos um
sentido para a existência. Eis aí a cultura! A partir dela, propaga-se a fé e
suas diferentes orientações.
Nossa Senhora das Neves
constitui-se como símbolo da fé católica que imperou no Brasil Colonial. Com
ela, nasceu nossa cidade. E hoje, 431 anos depois, passeia junto com os
pessoenses em meio a rituais de devoção a ela dedicados principalmente neste
dia.
A
colonização do Brasil impôs sobre a cultura nativa indígena novas concepções
para a origem do Universo e a salvação de cada um. Os cultos direcionados à Lua
e ao Sol, tomados pela religião marginalizada como deuses, foram substituídos
pela adoração a Jesus Cristo, dominante na Europa, na época. O Cristianismo,
então, espalhou-se nas dimensões do espaço-tempo. Em 5 de Agosto de 1585, dia
reservado pelo Vaticano à atual padroeira de João Pessoa, às margens do Rio
Sanhauá, sob o nome de Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, nasceu nossa
capital. Desde então, de geração em geração, os hábitos da fé católica se
repetem e tornam-se, mais do que a superficialidade científica do termo
“cultura”, um sentido espiritual para a vida.
Nosso calendário, ainda
hoje, representa a hegemonia da religião cristã: contamos os anos conforme o
registro da passagem humana de Cristo pela Terra. Feriados, nomes de cidades e
de estados brasileiros são produtos de convenções sociais históricas baseadas
na ligação intrínseca entre Império e Igreja. Tais marcas representam a
magnitude do poder de influência do Catolicismo Apostólico Romano no Brasil
Colonial e Imperial, mas também refletem crenças e manifestações religiosas que
caracterizam a história e a evolução cultural do nosso povo.
Na Festa das Neves, os ritos
religiosos reavivam a tradição secular e a fé em Cristo, e os ritos ditos profanos
celebram a miscigenação cultural contemporânea de uma população que dissemina
novos olhares sobre o mundo.
Mitologia Grega, Hinduísmo,
Islamismo, Budismo, Candomblé, Umbanda, Cristianismo... Cada manifestação de fé
tem suas razões para existir. A interdependência entre os seres humanos é uma
das maiores delas. A força de perpetuar crenças reside na construção cultural,
na convivência entre sujeitos sociais.
“Para que, na capital da
Paraíba que celebra seus 431 anos, nenhuma religião seja subjugada ou
marginalizada pelo simples fato de alimentar crenças diferentes das nossas.
Nossa Senhora das Neves, rogai por nós!”. Esta súplica de humildade e
reconhecimento multicultural é o nosso desejo.
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