Ódio religioso em comunidade do Rio de Janeiro

Descrição para cegos: imagem obtida do vídeo mostra yalorixá, de costas, destruindo imagens de seu terreiro. O piso está coberto de pedaços das estatuetas.

Por Denis Teixeira

Há algumas semanas, foi divulgado no Facebook um vídeo em que se via uma yalorixá, sob a mira de uma arma, sendo obrigada a destruir o próprio templo e suas imagens sagradas de culto ao candomblé. O caso, ocorrido em uma comunidade de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi gravado e divulgado pelos próprios criminosos, autodenominados “traficantes gospel”.

        No vídeo, os traficantes, sete homens armados, ameaçam a yalorixá:“Quebra tudo, quebra tudo! Apaga as velas, porque o sangue de Jesus tem poder! Arrebenta as guias todas! Todo o mal tem que ser desfeito, em nome de Jesus! [...]” - ordenam eles.

        Não se trata de um caso isolado. Segundo a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, tem ocorrido uma crescente onda de ataques a terreiros de umbanda e candomblé no Rio. Em dois meses, foram registradas 39 denúncias de intolerância religiosa, 12 dos quais na Baixada Fluminense. No entanto, a secretaria cogita a possibilidade de o número ser ainda maior, ou seja, que os números registrados oficialmente não correspondam a toda extensão do problema.

        Visando debater o tema, no último dia 5 foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Contou com a participação de líderes religiosos e representantes do Ministério Público, Defensoria Pública e Polícia Civil.

        Entre os líderes religiosos, estava Maria do Nascimento, conhecida como Mãe Meninazinha de Oxum, representante IleOmolu e Oxum. “Somos alvos dos ataques por causa do racismo. Intolerância, eu não digo, mas ao desrespeito, racismo religioso. Nós estamos retrocedendo. Nossos ancestrais já passaram por isso décadas atrás. Eles lutaram tanto, sofreram tanto, para que isso não se repetisse, mas infelizmente está se repetindo”, disse a religiosa que trouxe não apenas o debate acerca da intolerância sofrida na comunidade, como também aos duros resquícios do período colonial, de uma sociedade escravocrata que, ainda nos dias de hoje, massacra toda e qualquer manifestação cultural do povo negro.