Descrição para cegos: Clara Nunes trajando um vestido branco e abraçando uma mulher negra que veste uma roupa parecida com a sua. |
Por Igor Duarte
Uma das cantoras mais conhecidas da música popular brasileira foi também
uma das que mais se posicionou com relação às suas crenças. Clara Nunes, intérprete
de músicas que fizeram sucesso como “Canto das Três Raças”, “O Mar Serenou”,
“Tristeza Pé no Chão”, era convertida à umbanda, mas tinha relações estreitas com
o candomblé e espiritismo.
Mineira de Paraopeba, começou aos 10 anos sua carreira e, em 1965, se
mudou para o Rio de Janeiro, onde passou a frequentar a umbanda. A religião
teve forte influência na identidade musical da cantora. A construção da
carreira de Clara Nunes relacionou profundamente a raiz afro da cultura
nacional com a música popular brasileira. Usando gêneros como samba, choro e
baião, suas interpretações introduziam ao público referências aos orixás,
santos e aos símbolos da sua religião. Nas apresentações, se vestia com
colares, guias de santo, vestidos longos, turbantes e renda, reafirmando sua crença.
Em uma época que a religião africana ainda era um tabu, “A Guerreira”
teve papel importante na quebra de paradigmas em suas gravações. A temática
afrorreligiosa nas suas músicas rendeu a ela o título de primeira mulher
brasileira a vender mais de cem mil cópias de disco, com o repertório
reconhecidamente voltado ao candomblé e à umbanda.
A vibrante intérprete muitas vezes era noticiada pelos rituais,
restrições alimentícias, cores de roupa e outras associações feitas pela
imprensa, que ainda perduraram após sua morte. No entanto, a colaboração da
filha de Ogum e Iansã, Clara Nunes, para a música, cultura e diversidade
religiosa afro-brasileira ultrapassaram e ultrapassam todas as barreiras do
preconceito e tempo.
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