Por João Paulo Martins
Início
de janeiro, ainda absorvendo o resultado das últimas eleições o brasileiro
segue seu ritmo. Mais um ano iniciando, metas, perspectivas de futuro e planos
se fazem presentes no cotidiano, enquanto a realidade dura - para a grande
maioria - segue firme. Anoitece na
cidade de Camaçari, quarta cidade mais populosa do estado da Bahia, conhecida
como Cidade Industrial, por concentrar grande parte das indústrias daquela
região. O terreiro Ilê Axé Ojisé
Olodumare abre suas portas, que recebe ali em todos os fins de semana quem
deseja celebrar o candomblé.
Casa
cheia (casa, substantivo feminino que pode designar o lar de uma família),
cerca de 150 pessoas estão reunidas, a celebração a Oxalá segue
normalmente. Rychelmy Imbiriba,
Babalorixá, percebe uma movimentação incomum. O espaço naquele momento estava
sendo invadido, sete homens encapuzados, de forma agressiva, interrompem a
festividade. O terror se instala, sem saber o que estava acontecendo, alguns
correm e tentam fugir daquela situação. Dois dos sete homens estavam empunhavam
armas de fogo, mas todos portavam o ódio, artigo potencialmente destrutivo.
Descrição para cegos: Na imagem há cerca de sete integrantes do terreiro, três dele sentados em tronos e os outros dispostos ao chão. Todos apresentam em seus semblantes um aspecto de tristeza. Foto: Foto de arquivo pessoal/ Terreiro Ilê Axé Ojisé Olodumare
Tudo
foi revirado, pertences foram roubados, e até então, se ignorarmos a forma como
tudo aconteceu, aquilo se passa como um assalto comum. O pai de santo da casa,
Rychelmy, que foi agredido na face ao tentar acalmar a situação, fez questão de
ressaltar que a todo o momento os xingamentos foram a principal forma de
agressão. Entre aspas, a frase título deste texto, foi apenas uma das várias
agressões realizadas pelo grupo, todas elas sempre de cunho discriminatório
direcionada a prática religiosa daquelas pessoas. Ainda há quem diga que foi
apenas um crime comum.
Para
contextualizar um pouco e finalizar, vou trazer algumas informações que
considero importantes: o Ministério Público da Bahia (MP-BA) divulgou
informações acerca dos números de denúncias de intolerância religiosa.
Esses
números divulgados ressaltam o aumento acentuado destes casos. Em 2019, com
números contabilizados apenas até o dia 23 de janeiro, o percentual médio de
denúncias apresentou um número duas vezes maior que todo o período de janeiro
do ano passado. As denúncias vêm ascendendo significativamente, se comparado
aos números apresentados em 2017 é ainda mais alarmante, há um crescimento de
mais duzentos por cento.
Os
dados são mais que preocupantes, alertam para uma tendência que vem causando
medo e riscos para esse povo, que apesar de estarem travando uma luta secular
por liberdade ainda resistem fortemente. É sangue, suor e fé.
Com
informações dos portais iBahia, Mundo Negro e Ministério Público da Bahia.